Todos os habitantes do bairro já
se tinham habituado aquela estranha família que fazia uma ronda diária e
exaustiva por todos os contentores do lixo. Faziam-se transportar num pequeno
tractor que rasgava o silêncio da madrugada, foi concerteza o despertador de
muita gente.
Era uma família com quatro
elementos, todos eles tão diferentes que pareciam ter vindo de um tempo
distante, de um sitio que já não existe.
Aos comandos do tractor e dos
destinos da família, o pai. Um homem que aparentava muito mais idade do que
aquela que tinha, magro com aspecto cansado, mal trajado com um boné enfiado na
cabeça.
Enquanto chefe de família, gestor
de negócios e condutor da viatura não abandonava o seu posto de comando. As
tarefas de recolha e revista aos contentores estavam confiadas à patroa ajudada
pelo filho.
A patroa, uma mulher grande e mal
encarada, a própria “Etelvina”, era experiente na arte de revolver o lixo com a
ajuda dum pau.
Para a recolha mais selectiva,
entrava em acção o filho, conhecido pelo “Caracol Ensebado” que com alguma
agilidade e ausência de complexos entrava dentro dos contentores remexendo duma
ponta à outra.
Era um rapaz de outro tempo com
um ar provinciano daqueles que já não existem, com um ar pacato, mal vestido e
sujo, usava um velho boné enterrado naquele pequeno craneo.
Por último a filha, uma miúda
muito novinha que acompanhava aquela faina diária contribuindo ocasionalmente
nas tarefas mais ligeiras. Apesar de suja e mal vestida dava para perceber que
andava ali obrigada e que aquilo não estava nos seus planos.
Isto aconteceu há uns tantos anos, nem me lembro bem mas ainda tenho a imagem daquelas pessoas.
Nota: Etelvina Calendárica e o Caracol Ensebado, não eram estes os seus nomes, nem sei se alguém sabia como se chamavam de verdade….
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