quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Estórias de Bairro- I





-Comuuuuuuuunas!




Gritava a Dona Isolina do alto da sua marquise. O que avistava dali era algo que a deixava doida, era nada mais nada menos que uma bandeira do PCP. Estávamos para aí em 1975, ou coisa parecida.

Orgulhosamente esticada lá estava uma enorme bandeira vermelha com uma reluzente foice e martelo, estava mesmo ali do outro lado da rua na varanda do .
O era um daqueles comunistas à moda do pós 25 Abril, gadelhudo e com uma grande barba bem ao estilo revolucionário. Naqueles tempos um tipo assim era bem visto, ser camarada estava na moda e apesar dos gritos de liberdade que tanto se entoavam então, não havia liberdade para pensar muito em outras cores diferentes do vermelho. Basicamente todos tínhamos liberdade para pensar desde que fossem pensamentos de esquerda!

Não se era bem aceite pela classe operária se as nossas ideias fossem mais inclinadas para a direita. Não ser de esquerda era bastante mau, diria até, era arriscado pois o poder popular, apesar de ser tão democrático não tolerava qualquer inimigo das classes trabalhadoras. Aquele que pensasse diferente era de imediato rotulado de "fascista","reaccionário", "tubarão" e outros tantos adjectivos que hoje dão vontade de rir.

Mas adiante.

Os tempos foram passando, o comunismo foi perdendo a força e com isso a bandeira do foi sucessivamente substituída por outra cada vez mais pequena até desaparecer completamente.....

Não faço a mínima ideia para onde foi esse personagem, mas por tudo aquilo que já vi, não me admiro nada que pertença e seja um militante activo do PSD.
Também não sei a idade da Dona Isolina, deve estar perto dos 90 anos mas ainda com muita garra para refilar com tudo o que não concorda.

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