sábado, 31 de outubro de 2009

Drogarias

Faz alguns anos que existiam inumeras drogarias. Entretanto, os produtos começaram a ser comercializados em embalagens e em blisters e as velhas drogarias deixaram de existir. Agora são as lojas de ferragens, de bricolagem.
Mas recordo duas drogarias que fazem parte da história do zona onde cresci: a Drogaria do Salvador, em Tires, e a Drogaria do Zé Costa, na Parede.
A primeira apresentava o aspecto tão caracteristico das drogarias: bidões com produtos, caixas de madeira, frascos e cangalhada, por vezes não muito arrumada ou organizada. Mas o que tinha esta casa de especial? Era o vendedor, o próprio Salvador, que além de ser o dono era um péssimo comerciante.
Era um personagem mal encarado com alguma falta de cortesia com os clientes. Se estava bem disposto, até se podia lá ir, se estava de mau humor era mais complicado.
Era vulgar gritar com os clientes ainda antes de entrarem na loja, sem saber o que queriam, berrava: Não tenho!...
Claro está, perante uma recepção destas, qualquer um dava meia volta.
A Drogaria do Zé Costa era um local fora de série. Entrar lá era entrar num filme português, daqueles do tempo do António Silva e Vasco Santana. Era uma casa desarrumada e demasiado cheia, desde os penicos pendurados no tecto, as pequenas gaiolas sobrelotadas com rolas, ferragens e utensilios já há muito em desuso. Tudo isto era envolvido por uma generosa camada de pó.
Mas as pessoas eram interessantes e divertiam a clientela, Zé Costa mantinha-se em permanente discussão com o filho e com os clientes à mistura, era uma verdadeira cena de cinema português ou italiano.
Nesta casa havia de tudo e quando não existia a artigo exactamente como o pretendido, o Zé Costa ou o filho, emergiam no velho armazém e de imediato apareciam com qualquer produto que servia.
Destas duas casas apenas resta a memória.